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42 titles
- DirectorAlfred HitchcockStarsFarley GrangerRobert WalkerRuth RomanA psychopathic man tries to forcibly persuade a tennis star to agree to his theory that two strangers can get away with murder by submitting to his plan to kill the other's most-hated person.02/jan
[HBO Max]
8/10
Um psicopata e um jogador de tênis entram num trem. No meio da anedota de Hitchcock, morte por esganadura e perseguição. O argumento é simples e funcional: Bruno tenta convencer Guy de que trocar de vítimas é o crime perfeito. Ele só esquece que quase ninguém é desequilibrado a ponto de cometer crimes a esmo. Na tensão crescente do noir, a incapacidade de diálogo e os desafetos do destino desenrolam quase toda a trama, empurrando os personagens a uma perseguição em que quase nunca saem do lugar — como num carrossel: Guy não fala sobre Bruno e Bruno… bem, Bruno cumpriu sua parte do pacto, né? O problema é que o diretor nos ensina que até mesmo carrosséis podem descarrilar (e francamente eu não esperava por isso). Noves fora, uma diversão garantidíssima num ritmo que daria inveja a muitos suspenses atuais. Nada como uma história bem contada pra começar os trabalhos do ano. - DirectorEdward SedgwickBuster KeatonStarsBuster KeatonMarceline DayHarold GoodwinHopelessly in love with a woman working at MGM Studios, a clumsy man attempts to become a motion-picture cameraman to be close to the object of his desire.02/dez
[HBO Max]
8/10
O primeiro filme de Keaton na MGM — contrato que o tornaria um “assalariado comum”, retirando dele toda a potência criativa — é ainda vivaz e inventivo. Já no final do cinema mudo, Keaton traz a metalinguagem para discutir o papel do cinema documental. Cheio de humor físico muito bem coreografado, o filme ainda tem grande apelo narrativo e conserva bem guardado sua graça. - DirectorRob SavageStarsSophie ThatcherChris MessinaVivien Lyra BlairStill reeling from the tragic death of their mother, a teenage girl and her younger sister find themselves plagued by a sadistic presence in their house and struggle to get their grieving father to pay attention before it's too late.02/jan
[Star+]
6/10
O bicho-papão até pode não ser lá essas coisas: um gollum bombadinho e apavorado com a claridade não é dos piores Babadooks. A história, um arroz com feijão requentado mas bem feitinho, segue narrativa classicuda dos filmes de terror-e-trauma — nem do subtexto cafona e óbvio (de que não vou tratar aqui pra evitar spoiler) ela nos poupa. Mas Rob Savage parece satisfeito em contar essa história, dessa maneira: claramente não é preguiça, mas um exercício de gênero. E a gente fica ok com isso, mesmo que o medo não seja TÃO real assim. - DirectorPeter JacksonStarsMartin FreemanIan McKellenRichard ArmitageA reluctant Hobbit, Bilbo Baggins, sets out to the Lonely Mountain with a spirited group of dwarves to reclaim their mountain home and the gold within it from the dragon Smaug.03/jan*
[VERSÃO ESTENDIDA]
[Apple TV]
NOTA MANTIDA: 9/10
Faz dez anos desde a última vez que vi este primeiro Hobbit. O distanciamento é importante pra revisar o filme sem certas expectativas ou frustrações (há memória, mas há lacunas). É também a primeira vez que me embrenho pelas versões estendidas, inéditas para mim até hoje. E fui surpreendido, porque há muitas qualidades (afetuosas e técnicas) que não esperava encontrar nessa primeira jornada.
Duas percepções me atraíram muito na versão estendida. Primeiro, o filme é muito mais musical. Além da majestosa canção em Bolsão, há deliciosas sequências musicais — divertidas, bem encaixadas, sonoras — ao longo da narrativa, que servem a seu propósito, e não apesar dele. Além disso, as hipérboles visuais de Jackson engrandecem a história: todo o seguimento envolvendo os salões do Rei Góbelin, por exemplo, são formidáveis encadeamentos de ação, imaginativos, coloridos, e, por isso, remetem à infância (na melhor acepção que o conceito pode trazer), numa alusão óbvia ao público-alvo de Tolkien: seus jovens filhos.
As hipérboles visuais, entretanto, às vezes tendem ao cansaço: o fato de Azog ser criado por CG em vez de interpretado por um ator sob máscaras (que funcionou muito-bem-obrigado em O Senhor dos Anéis) é, para mim, incompreensível. O excesso, aqui, desgasta — e só não esgota porque, convenhamos, Andrew Lesnie (diretor de fotografia parceiraço de PJ), Alan Lee, John Howe e Dan Hennah (na direção de arte) estão irretocáveis aqui: trabalho primoroso de uso de cores, de luz, de efeitos visuais, de locação, de cenografia. Tecnicamente, ainda mais caprichado que a trilogia anterior — mas também mais preguiçoso, porque tudo vira efeito especial em lugar de prático.
Fico feliz de saber que me trouxe novas alegrias revisar este primeiro Hobbit. Houve prazer mesmo; deleite. Sinto que não acontecerá com os próximos, mas seguirei no trabalho.
(Não procurem imparcialidade aqui. Trata-se de uma revisão apaixonada por cinema, mas igualmente muito apaixonada pela Obra do Professor.) - DirectorTerence YoungStarsSean ConneryUrsula AndressBernard LeeA resourceful British government agent seeks answers in a case involving the disappearance of a colleague and the disruption of the American space program.04/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 01/25]
[Apple TV]
7/10
O ano é 2023 resolvi tentar revisar todos os 25 filmes do meu querido agente. De alguns me lembro bem; de outros, tenho vaga memória; e ainda há aqueles que exigem grande esforço até pra saber que existem (estou falando com vocês, Lazenby e Dalton). Então bora começar do zero.
Dr. No (e o título original era só esse mesmo — vamos combinar que a tradução brasileira é muito mais emocionante) guarda em si raízes que vão penetrar profundamente no lore de nosso herói: uma bond girl durona (Ursula Andrews, imbatível na lindeza); comportamentos absolutamente irresponsáveis do agente; vilões ablublé das ideias com dinheiro infinito em ilhas caribenhas; white washing; a primeira explicação do que é o SPECTRE (mais uma siglonimização maravilhosa e sem nenhum sentido); uma trilha empolgante; e muitos, mas muitos absurdos — num roteiro que começa atrelado à verossimilhança e termina chutando qualquer possibilidade de coerência dali.
Aliás, acredito que talvez este seja o grande problema do primeiro filme: não entender para onde caminhar. Se, por um lado, trazia um contexto de Guerra Fria, espionagem e tensão nuclear para as telas, por outro ele se escora em premissas quase infantis para a trama — como se fossem duas crianças brincando de detetive. Não teria problema nenhum abraçar esta última tendência (outros filmes o farão orgulhosamente), mas o meio do caminho às vezes gera cansaço. Não obstante, Connery é o coração da história: sua condução entre o bon vivant e o canalha absoluto seduz desde o começo. Bora checar o crescimento do homem na lenda com os próximos. - DirectorPeter JacksonStarsIan McKellenMartin FreemanRichard ArmitageThe dwarves, along with Bilbo Baggins and Gandalf the Grey, continue their quest to reclaim the Lonely Mountain, their homeland, from the dragon Smaug.04/jan*
[VERSÃO ESTENDIDA]
[Apple TV]
NOTA ALTERADA: 9 > 7/10
Então que agora rolam dois caminhos pra avaliar o filme: sob a perspectiva do livro e sob a perspectiva de narrativa cinematográfica. Vou carinhosamente abrir mão da primeira via, porque se trata de obras diferentes, mas vou comentar que, como adaptação, não me aborrece, embora as liberdades artísticas, às vezes, sejam exageradas.
Cabe logo começar com o elefante branco na sala e começar pelo desnecessário triângulo amoroso entre Tauriel, Legolas e Kili. Eu sei que PJ precisava de uma personagem feminina a ser desenvolvida: Tolkien falha dramaticamente em apresentar mulheres fortes em suas obras. Evangeline Lilly defende muito bem seu papel: trata-se de uma crível capitã elfa, que seria excelente como apoio de conflitos entre anãos e elfos. Mas o background amoroso é bobo, mal desenvolvido e desperdiçado.
Aliás, o roteiro peca em esticar este ato para que caiba um terceiro filme. Fica evidente que se trata de um capítulo intermediário (e isso é um problema): as relações políticas no Valle; as hesitações de Thorin; as soluções para separar os personagens — tudo se assemelha com passar pouco manteiga num pedaço grande demais de pão. No meio disso tudo, o que funciona é justamente o que foi retirado do corte original, mas que se faz presente nesta versão estendida (pequeno spoiler?): as sequências em que Gandalf descobre o paradeiro de Thrain — e também que o último anel dos anãos fora levado pelo Necromante, que se revela Sauron. Taí um adendo muito pertinente à narrativa e que, de fato, preenche lacunas importantes à trama (já que Tolkien usou o mago como bengala para seus deus ex machina em todo este livro), relacionando esta trilogia à próxima.
De mais: eu gostei da revisão. Mais do que imaginaria. Adoro os arroubos de ação de Jackson e me empolgo, tanto com os absurdos da fuga de barris, quanto com os exageros dramáticos na Montanha Solitária: a briga com Smaug tem lá seus excessos de efeitos especiais, mas é dinâmica e bem construída. Cores, direção de arte, trilha: sobre isso, nenhum comentário; seguem trabalhos de cair o queixo. Problemão esse final anticlimático, né? Eu entendo a decisão, mas sei lá: o arco se resolve tão fácil depois…
Vamos ver o que A Batalha dos Cinco Exércitos nos guarda. - DirectorTerence YoungStarsSean ConneryRobert ShawLotte LenyaJames Bond willingly falls into an assassination plot involving a naive Russian beauty in order to retrieve a Soviet encryption device that was stolen by S.P.E.C.T.R.E.04/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 02/25]
[Apple TV]
9/10
O agente com as piores insinuações sexuais do planeta (“Minha boca é muito grande.” “Não acho. É do tamanho certo para mim.”) está de volta, numa produção muito mais caprichada e com orçamento certamente maior que o de sua primeira aventura. Trocando a Jamaica pela Turquia — e incluindo lá no último ato a Iugoslávia/Croácia e Veneza (parece começar a se consagrar na série a dinâmica de viagens intercontinentais) —, o roteiro é muito mais interessante e mais bem amarrado que o do primeiro filme: com uma bem-bolada malévola trama de nosso Dr. Evil primogênito (Ernst Stavros Blofeld, o Número 1 da SPECTRE e seu sinistro gato branco), Bond se envolve de vez com a secreta megaorganização criminosa que não era comunista nem capitalista (SEM PARTIDO!, vejam só) e que, como o agente que nunca assume um nome falso, tem uma ilha que se chama… Ilha da SPECTRE. Tipo os irmãos Metralha que tinham uma seta iluminada apontando para seu esconderijo. Bloody brilliant!
Com Moscou Contra 007, os prazeres começam do princípio: é uma alegria ver que aqui começam as aberturas do agente — ainda que se repita o tema orquestral do anterior. Bond aparece com quase 20 minutos de filme para que se entenda melhor a organização que vai assombrá-lo até Daniel Craig. Para não ficar a ver navios, Q aparece pela primeira vez, com seus gadgets e que-tais (com trocadilho), sempre úteis para qualquer clímax. M e Moneypenny, ícones da série, também parecem servir de muleta para as piadas sexuais do agente, que não tinha medo de bater em mulher (desde que ela talvez fosse agente dupla, nunca se sabe — sim, foi um comentário ácido).
Gostei demais. Sólido, o filme estabelece novas barreiras para o gênero. Uma delícia. - DirectorGuy HamiltonStarsSean ConneryGert FröbeHonor BlackmanWhile investigating a gold magnate's smuggling, James Bond uncovers a plot to contaminate the Fort Knox gold reserve.04/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 03/25]
[Apple TV]
9/10
Outra praia no Caribe; outra Revolução Cubana. A introdução abre com Bond em roupa de mergulho, saindo da água, apenas para revelar que, por baixo de tudo, seu terno impecavelmente branco e passado realça uma flor vermelha na lapela antes que a bomba que o agente plantara exploda. True Lies fez igual, mas era uma paródia. James só abraça de vez a troça e as absurdices desde o prólogo, com as piadas mais canalhas — “Chocante!”, diz o britânico, após eletrocutar um homem na banheira e de usar a mulher que beijava como escudo —, e seduz porque é a megalomania em seu estado puro.
E isso porque só passamos pelo prelúdio. Entra então Shirley Bassey, senhoras e senhores, com uma das melhores canções dos Bonds. Justo: grandes músicas para grandes filmes.
Goldfinger é tudo isso que os fãs admiram: nele, o absurdo toma conta exponencialmente para tornar 007 um verdadeiro super-herói antiatômico: não porque os supervilões sejam os antagonistas (não são; esses aí são só mentes perturbadas e com tempo vago demais para bolar planos mirabolantes — como contaminar o ouro dos EUA(?) para valorizar o seu próprio(?) por 58 anos(?); por Deus!, Goldfinger, que diabos!), mas porque seus capangas (esses sim!) sejam verdadeiros colossos de força: no caso de Oddjob, a cartola mais mortal do Ocidente, chega a ser perturbador como nada o afeta. Essa é uma tendência que se repete ainda muito lá pra frente. Aqui funciona bem.
De novidade, não só Q aparece, como toda sua divisão — e, voilá, o Aston Martin está ali pela primeira vez para a primeira grande perseguição de carro da série. Pussy Galore é a bond girl pouco afeita à ideia de ser bond girl, e isso diz muito sobre o papel de Honor Blackman pro restante da série. As intrigas se encerram num clímax pra lá de absurdo, ao gosto do que vai tornar a saga um clássico.
Imperdível para a cinematografia do agente. - DirectorDanny PhilippouMichael PhilippouStarsAri McCarthyHamish PhillipsKit Erhart-BruceWhen a group of friends discover how to conjure spirits using an embalmed hand, they become hooked on the new thrill, until one of them goes too far and unleashes terrifying supernatural forces.05/jan
[Prime Video]
8/10
Todo mundo gosta de uma história de terror. A gente as conta e as ouve aos montes porque elas nos ensinam a lidar com nossos medos. O gênero começou com monstros lá atrás (o Drácula, o Frankenstein são metáforas para doenças incuráveis, o medo da morte, o avanço assustador da medicina); chegou aos fantasmas; e agora encontra base simbólica nas aflições cotidianas — a depressão, o suicídio, as drogas.
O terror é o gênero que fala mais sobre dentro do que fora. E revela, na violência encenada, o modo de lidar com as dores.
O terror de susto me diverte como um trem fantasma. O dos monstros (desde que não seja Thriller, do Michael Jackson — nem perguntem, trauma de infância) até me leva ao riso. Mas esse de drama, carregado de metáforas para as doenças cotidianas, esse… me apavora.
Fale Comigo envereda por esse caminho: a geração Z encara o mundo sem o encantamento — e aí o sobrenatural se torna banal, bobo, filmado e repassado pro YouTube. Só que o sobrenatural existe (e aqui falo em metáfora, claro): o desprezo às reações sencientes levam à frieza, ao ódio, à depressão. E esse é o coração da história que os irmãos Michael e Danny Philippous nos contam: o que parece desprezo e deboche é, na real, resultado de anos de negligências emocionais, de depressão severa, de incapacidade de lidar com os nossos próprios demônios. Culpa-medo-ódio: o coquetel que nos move e que nos trava; o oximoro.
Obviamente que isso é contado com sangue, ossos quebrados e violência gráfica. E muito bem contado. Além da química muito fluida entre os atores, de uma direção de arte que consegue garantir sustos sem nem um jump scare, há momentos que, francamente, são de apavorar. Especialmente quando rola uma inversão, já próximo ao clímax, em que se inverte o jogo. Problema é que depois daí tudo vira uma farsa, meio boba e até previsível.
Não estraga o filme, claro, mas fica aquele amarguinho que conhecemos bem.
Vou dormir daqui a pouco. Mas estou com medo. Chama-se desesperança. - DirectorTerence YoungStarsSean ConneryClaudine AugerAdolfo CeliJames Bond heads to the Bahamas to recover two nuclear warheads stolen by S.P.E.C.T.R.E. Agent Emilio Largo in an international extortion scheme.08/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 04/25]
[Apple TV]
4/10
Thunderball começa chato já no tema. Terence Young definitivamente não é Guy Hamilton: mais do que um conquistador (fosse lá o que isso fosse pros anos 60), seu Bond é um assediador truculento e sem charme nenhum. A impressão é a de que esticaram o ridículo até um caminho sem retorno, evidenciando-o pelo simples prazer, como um pastiche, uma troça do que era aquele agente — a “reunião dos 00” em confronto com a “reunião da SPECTRE”, ambas pasteurizadas e quase involuntariamente cômicas, provam isso. As mulheres não têm papel de destaque; equivalem-se (inclusive em corpo e rosto), são indistinguíveis. E esse roteiro, francamente, é chatíssimo, com sequências no mar que são enfadonhas, aborrecidas. Esqueçam isso aqui. - DirectorChris BuckFawn VeerasunthornStarsAriana DeBoseChris PineAlan TudykA young girl named Asha wishes on a star and gets a more direct answer than she bargained for when a trouble-making star comes down from the sky to join her.09/jan
[Cinemark Plaza]
5/10
Filmes infantis compreendem mais que o caráter de sua narrativa per se: ela é a construção de sentidos morais, éticos, metáforas que encadeiam o mundo. Mas crianças não aceitam qualquer narrativa; são espectadores inteligentes, vorazes e atentos, que exigem cores, formas, sentido.
Nesse sentido, Wish, com trocadilho, é um desejo que não se realiza. Não é na arte (bonita, mas frequentemente preguiçosa, mecânica) que reside seu problema, mas na tentativa de ser o que não é. Com uma mensagem confusa e uma trilha em que uma música, de fato, empolga, Chris Buck mira em homenagens para comemorar os 100 anos da Disney — estão ali os Sete Anões reincorporados, Jaffar e Scar são dois lados de um vilão canhestro, Peter Pan voa aleatoriamente pelos cenários, Crush surfa numa onda doida da estrela — mas esbarra em uma fala de sua própria personagem quando tem seu desejo destruído: “me sinto tão vazia.”
Infelizmente, trata-se de uma grande confusão narrativa e subtextual. Equívocos sobrepostos tentam acolher uma trama que não sabe pra onde vai. Parece que busca cenas épicas em sucessão, mas esquece o básico: não há interesse quando não se tem o que contar. - DirectorPeter JacksonStarsIan McKellenMartin FreemanRichard ArmitageBilbo Baggins and company are forced to engage in a war against an array of combatants and keep the Lonely Mountain from falling into the hands of a rising darkness.10/jan*
[VERSÃO ESTENDIDA]
[Apple TV]
NOTA ALTERADA: 9 > 8/10
Há muitas emoções envolvidas na conclusão desta trilogia. Começo pelo final, em que Billy Boyd canta The Last Goodbye: a garganta engasga e sente a glote fechar, os olhos lacrimejam, e tudo é bem involuntário — resultado de amores despejados pela obra do Professor.
Isso se repete em muitos momentos, não só como lembrança de que se trata de um adeus à obra nos cinemas, mas como efeito dramático do próprio roteiro. Há muitas despedidas.
Vou refutar quem diz que “não é Tolkien”. É claro que é: não literal, mas adaptado, moldado ao cinema. Ao contrário do anterior (ora, a desolação de Smaug está NESTE terceiro capítulo), este é um filme que entrega seu título: é um filme de guerra, de batalha. Mais de duas horas de conflitos, de ritmo frenético em poucos respiros.
Peter Jackson se propõe a amarrar os laços das histórias que ele trouxe nos dois capítulos anteriores: sentem-se as perdas, entendem-se as decisões dos personagens (embora Thorin esteja relutante demais) e, por fim, atam-se os laços com O Senhor dos Anéis. Está tudo ali.
Não falta amor, mas falta talvez apuro. Já reclamei da CG antes, e volto a fazê-lo aqui: há momentos em que a batalha se torna fria, distante como num videogame. Falta texto de Tolkien também — que, às vezes, PJ confunde com referência e easter egg (“vou falar de Aragorn, mas fica aqui quase como uma piscadinha pros que estão atentos ;)”); mas o resultado (orquestrado por pressão do estúdio para que fosse uma trilogia, em vez de apenas dois filmes, como o diretor queria) é afetuoso e, por isso mesmo, positivo. Armitage e Freeman estão poderosos em seus papéis; Holm volta a um Bilbo de memórias poderosas; McKellen, Blanchett, Sir Lee e Weaving nasceram para seus papéis (e que cena satisfatória a batalha com os Nove, invenção absolutamente viável para a trama).
O Hobbit é sobre encerramento de ciclos. Shore encerra o seu com maestria, tendo criado uma das trilhas mais felizes do cinema (mesmo que aqui estivesse em conflito com PJ). E Jackson deixa um legado admirável para o cinema de fantasia na indústria. A Batalha dos Cinco Exércitos deixa um rastro de admiração por toda a obra e encerra um capítulo importante da história do cinema. E nada disso pode ser distinguido de seu trabalho narrativo eficiente, fruto de decênios de amor e dedicação ao trabalho e ao legado do Mestre John Ronald Reuel Tolkien. - DirectorAbbas KiarostamiStarsBabek Ahmed PoorAhmed Ahmed PoorKhodabakhsh DefaeiEight-year-old Ahmed has mistakenly taken his friend Mohammad's notebook. He wants to return it, or else his friend will be expelled from school. The boy determinedly sets out to find Mohammad's home in the neighbouring village.10/jan
[Mubi]
9/10
Ahmed (Babek Ahmed Poor, adorável e expressivo) percebe que um pequeno acidente fez com que trocasse seu caderno com o de seu melhor amigo, Mohamed Reza (Ahmed Ahmed Poor). Mesmo sem saber onde ele mora, Ahmed se envolve em uma viagem entre duas comunidades para devolvê-lo ao companheiro, ameaçado de ser expulso da escola caso não fizesse o exercício.
A história é essa, sem mais. E tenderia ao enfado se não fosse a habilidade de Kiarostami em tornar o conflito uma epopeia particular (sendo este o primeiro filme da Trilogia de Koker, todas no mesmo vilarejo). Ahmed é um Odisseu em busca de salvaguardo: em sua aventura, ciclopes e poseidons dão lugar a velhos construtores, a familiares rígidos e a toda uma estrutura ética e social que pauta a jornada do menino. Os obstáculos são enormes; mas sua persistência e sua amizade lhe são réguas morais inabaláveis, que permitem que o mar de areia se abra mesmo com tantos percalços.
É na simplicidade e nos espaços fabulescos que Kiarostami constrói sua narrativa. Nosso interesse por Ahmed é o mesmo que nos preenche quando ouvimos pela milésima vez o conto do Pequeno Príncipe: sabemos o resultado, mas estamos encantados por aqueles encontros. - DirectorPeter SohnStarsLeah LewisMamoudou AthieRonnie Del CarmenFollows Ember and Wade, in a city where fire-, water-, earth- and air-residents live together.10/jan
[Disney+]
6/10
Parece haver uma certa crise (não apenas estética, mas certamente imaginativa) nos estúdios. Elementos é uma doçura: Gota e Faísca são carismáticos; seus familiares, afetuosos; seus conflitos, compreensíveis. Mas não há nada além disso.
Peter Sohn faz uma história que ora lembra Zootopia (sem a vivacidade do ambiente urbano que o longa trazia), ora remete a Divertidamente (nas cores, na estrutura). Mas é tudo meio pasteurizado, genérico mesmo. Narrativa e subtextualmente, essa história já foi contada de tantas maneiras que esgota até o mais imberbe espectador. Não há quem não antecipe o clímax ou o final mesmo que não tenha experiência em cinema. Junte a isso uns diálogos canhestros, um universo capenga e — tá lá mais um filme alheio à curiosidade, apesar de bonitinho.
E é terrível quando este é o único elogio cabível para qualquer obra: bonitinho. - DirectorLewis GilbertStarsSean ConneryAkiko WakabayashiMie HamaJames Bond and the Japanese Secret Service must find and stop the true culprit of a series of space hijackings, before war is provoked between Russia and the United States.10/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 05/25]
[Apple TV]
6/10
Mais sexista que nunca (eu tento consider o contexto, mas pelamordedeus!, produção, cês extrapolam!), Bond retorna para uma quinta aventura, dessa vez em mares japoneses. Depois de uma sequência de abertura dinamicíssima, em que astronautas americanos são subjugados por um tubarão espacial de baixa renderização e em que o próprio agente é finalmente assassinado (por sua xenofobia, esperamos), Nancy Sinatra entra poderosa pra cantar uma das minhas canções favoritas (troço legal é notar que elas começam a funcionar independentes do filme).
Esbanjando white washing (Bond se fazer passar por um japonês é das ideias mais estapafúrdias e nonsense de toda a série), a história perde a mão em um roteiro que mira na mirabolância e acerta no ridículo. Da morte enfeitada no prólogo (que não faz sentido nenhum, no final — Blofeld sempre soube que ele não teria morrido) até a chocante revelação do Número 01 (que é involuntariamente muito engraçada), o roteiro é uma sequência de esquetes de ação que sofrem pesarosas com os efeitos e com o ritmo.
Se não é um filme ruim como “Contra a Chantagem Atômica”, faltou-lhe borogodó. - DirectorPeter R. HuntStarsGeorge LazenbyDiana RiggTelly SavalasBritish agent James Bond goes undercover to pursue the villainous Ernst Stavro Blofeld, who is planning to hold the world to ransom.11/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 06/25]
[Prime Video]
9/10
Eu tenho péssimas memórias desse filme: ouvia todos falarem tão mal que vi uma vez e nunca mais fiz a revisão. Pudera: Lazenby tinha a ingrata tarefa de substituir um Sean de-saco-cheio Connery no papel do agente. Depois de 5 filmes de sucesso estrondoso? Loucura! Mudar a franquia de direção era perigoso e perturbador pra grande parte do público — e isso vai se refletir nos comentários que ouvi mesmo 30 anos depois do lançamento.
Mudar, vírgula; afinal, é no prólogo que Peter R. Hunt resolve mostrar pros preocupados que tudo segue igual: já de cara, Bernard Lee, Lois Maxwell e Desmond Llewelyn tratam de repetir os papéis de M, Moneypenny e Q, apaziguando ânimos que pudessem rejeitar a mudança. Comigo, confesso, funciona: fiquei surpreso quando curti essa introdução, tanto porque Lazenby se sai muito bem na porradaria inicial (convenhamos, é bem claro que Connery já estava no automático no filme anterior), quanto porque a piscadinha pro espectador após a fuga da bond girl da vez (“Isso nunca aconteceu com o outro cara”) foi especialmente engraçada, apesar de adiegética (caso pouco comum à série mas, aqui, persistentes, como no momento em que o faxineiro do covil do crime da vez assobia a música-tema de Goldfinger enquanto 007 é sequestrado ou o em que Moneypenny reencontra o agente (“Ah, sempre o mesmo James. Mas mais atrevido!”).
O roteiro é bem ousado (e tenta sem sucesso o que, hoje, os 007 do Craig conseguiram): além de trazer enorme seriedade e peso à série, também se arrisca em trazer um Bond menos galhofeiro, mais determinado e mais verossimilhante (nos disfarces, no uso de nomes falsos) até no argumento: após pedir demissão (apesar de M liberar só um recesso) do Serviço Secreto, o agente parte em investigação particular para capturar Blofeld e desbaratar a SPECTRE. No meio da jornada, os melhores encontros com uma bond girl até agora: Diana Rigg traz à sua Tracy do Vicenzo uma postura ativa, de comando, absolutamente crível e inovadora à franquia. Da mesma forma, Telly Savalas empresta mais dignidade a Blofeld que seu antecessor, Donald Pleasence, criando um vilão verdadeiramente ameaçador e perigoso.
Some a isso referências que ainda vão determinar o rumo da série (como aquela ao brasão de Thomas Bond, “orbis non sufficit” — “O Mundo não é o Bastante”), sequências de ação muito empolgantes — como a perseguição de esqui, muito bem montada e original para a série —, um James às vezes frágil — inclusive, sendo salvo pela bond girl —, e temos uma explicação plausível para o fracasso:
o filme era bom demais para o público de sua época.
Uma pena que siga malquisto. É um filmaço. - DirectorGuy HamiltonStarsSean ConneryJill St. JohnCharles GrayA diamond smuggling investigation leads James Bond to Las Vegas where he uncovers an evil plot involving a rich business tycoon.12/jan*
[REVISÃO DA SÉRIE 07/25]
[Apple TV+]
6/10
Déjà vu.
Depois de uma grave crise de identidade com o público (e fingindo que o último episódio nem existiu), a EON resolveu colocar o dôbol-ow nos seus trilhos novamente. Não poupou esforços: pagou salário astronômico a um Sean Connery já de cabelos brancos, reconvocou Guy Hamilton pra direção e Shirley Bassey pra música-tema (ambos de Goldfinger) e ainda deu um leve migué pra colocar Charles Gray (nosso Criminologista favorito de RHPS) como Blofeld, mesmo depois de ele já ter sido assassinado em Só Se Vive Duas Vezes (bem, que ironia, né mesmo?). O resultado entretanto, não convence.
Utilizando finalmente alguns recursos engenhosos no roteiro — como trocas de identidade, máscaras vocais e aparentes (o que “explica” Blofeld ter mudado radicalmente de rosto), o filme até tenta boas sequências: há desde uma fuga insólita com um “veículo lunar” (alimentando teorias da conspiração de que o homem não foi à lua) a uma bem montada perseguição pelas ruas de Los Angeles, principalmente pelo estacionamento. Há intrigas, trocas de identidade, e até um gato-e-rato por diamantes. Mas o filme parece sofrer de uma grave crise de identidade: entre o humor rasgado e infantil dos capangas (Senhor Kidd e Senhor Wint são, francamente, mais risíveis que apavorantes) e a tentativa de trazer um subtexto nuclear “sério” envolvendo diamantes (e o Blofeld mais panaca de todos os tempos, já sem a SPECTRE — desbaratada, talvez?), o Bond de Connery já não quer mais estar neste mundo. Ficou eterno, claro, como os diamantes. Mas era hora de seguir adiante. É o fim de uma fase e de um tempo.
Melancólico, mas um fim.
007 está morto. Vida longa a 007. - DirectorPaul KingStarsTimothée ChalametGustave DieMurray McArthurWith dreams of opening a shop in a city renowned for its chocolate, a young and poor Willy Wonka discovers that the industry is run by a cartel of greedy chocolatiers.22/jan
[AMC Empire 25 - NYC]
8/10
Wonka é um deleite imaginativo de profundo respeito ao original de Gene Wilder. Chalamet prova que sabe atuar, afastando-se de sua costumeira preguiça tediosa. - DirectorNick BrunoTroy QuaneStarsChloë Grace MoretzRiz AhmedEugene Lee YangWhen a knight in a futuristic medieval world is framed for a crime he didn't commit, the only one who can help him prove his innocence is Nimona -- a mischievous teen who happens to be a shapeshifting creature he's sworn to destroy.24/jan
[Netflix]
8/10
Com um subtexto lindíssimo sobre “ser quem se é”, o filme traz bonita discussão sobre gênero, sexualidade, orientação e liberdade. Poderoso na narrativa, utiliza as metáforas de uma shapeshifter pra que sua mensagem não caia na banalidade: organicamente, articula os confrontos à narrativa, que, se não é nova, não frustra nem cansa. A direção segura de Troy Quane e Nick Bruno ainda garante que a história flua sem intercorrências indigestas; a história se basta e se conta integralmente. - DirectorBradley CooperStarsCarey MulliganBradley CooperMatt BomerThis love story chronicles the lifelong relationship of conductor-composer Leonard Bernstein and actress Felicia Montealegre Cohn Bernstein.25/jan
[Netflix]
5/10
Bradley Cooper estreou com uma direção segura em Nasce uma Estrela; nesta segunda produção, entretanto, vacila. Entre uma composição (como ator) quase caricata de um Bernstein vacilante, sem convicções políticas ou conflitos (quase tudo se justifica como parte de ser ele mesmo um bon vivant, alguém aberto a experiências lisérgicas e sexuais — um “artista”, para quem não há conflitos humanos comuns) — e decisões (como diretor) que, francamente, tende a uma direção de arte nada orgânica (o aspecto de tela parece uma decisão estética convencional, independente da narrativa), o artista parece não querer esticar a barra para lado nenhum. Bernstein é insosso, sem dilemas, quase apócrifo; Felicia, entretanto, tem camadas — mas isso se deve, em grande parte, ao trabalho delicado de Carey Mulligan, principalmente no terceiro ato. Sempre na superfície, o filme parece nunca querer mergulhar no drama dos personagens que acompanha (talvez na doença de Felícia, pelo melodrama, mas nunca nos abrasivos morais de suas figuras centrais. Uma pena, já que é aí que a história reside. - DirectorJ.A. BayonaStarsEnzo VogrincicAgustín PardellaMatías RecaltThe flight of a rugby team crashes on a glacier in the Andes. The few passengers who survive the crash find themselves in one of the world's toughest environments to survive.25/jan
[Netflix]
8/10
Apesar de ser irregular (desequilibrado entre a deficiência narrativa de O Impossível e a grandeza metafórica de Sete Minutos Depois da Meia-noite), J. A. Bayona é um diretor que encontra paixões nas suas histórias e as utiliza como fio narrativo na composição. Aqui, na quinta versão sobre o acidente com um time de rúgbi uruguaio, não é diferente: a partir de um acidente muito gráfico, Bayona encontra seu percurso não na extrapolação visual, mas na persistência e na força dos sobreviventes. Não é sem querer a escolha de seu narrador-protagonista: sendo o último a morrer, Numa é aquele que carrega a coragem que caracteriza os vivos e a memória que consagra os mortos. Num roteiro de tensão palpável e de reflexões existenciais, Bayona compreende que reviver a história é louvar a vida como nós a experimentamos — nós, espectadores, alheios ao medo real, mas em carne engasgando com o medo que persiste na catarse do diretor. É de revirar o estômago, mas pelos motivos certos: na antítese, a fragilidade com que nos vamos é o que nos assusta; a força com que, ainda assim, sobrevivemos é o que nos motiva. - DirectorJimmy ChinElizabeth Chai VasarhelyiStarsAnnette BeningJodie FosterAnne Marie KempfThe remarkable true story of athlete Diana Nyad who, at the age of 60 and with the help of her best friend and coach, commits to achieving her life-long dream: a 110-mile open ocean swim from Cuba to Florida.26/jan
[Netflix]
5/10
A história de Diana Nyad é controversa. Sua travessia a nado entre Cuba e Flórida, aos 64 anos, é contestada por grupos de nadadores em mar aberto, porque há nove horas de percurso não filmadas e que abrem margem para a dúvida sobre a idoneidade do ato. Sem levantar qualquer questionamento nesse sentido, os diretores Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi investem na trajetória da nadadora e de sua técnica Bonnie Stoll, evocando a conquista de forma confusa: com idas e vindas temporais, em flashbacks que, mal montados e cheios de efeitos visuais de um filtro ruim do Instagram, vão se resolvendo ao longo do filme, mas parecem nunca ter o espaço necessário para que entendamos seu peso narrativo (das duas, uma: ou o fato contado não tem peso para a história, e é um apêndice mal formado na trama; ou tem, mas não é desenvolvido como deveria, o que o torna um problema). O roteiro de Julia Cox (com participação da própria Nyad) também não ajuda: seus diálogos são ora indigestos e falseados, ora excessivamente expositivos, englobando todos os clichês do gênero (apoiados por uma trilha preguiçosa). Tinha tudo pra dar totalmente errado.
Sorte da produção ter contado com duas atrizes extraordinárias para transformar a insossa narrativa em história palpável: Annette Bening e Jodie Foster carregam o filme nas costas. Bening consegue dar humanidade à figura intragável de Nyad, e Foster consegue fazer com que ela seja alguém com quem conseguimos nos importar. Os embates entre ambas (que ainda contam com Rhys Ifans muito bem no elenco de apoio) extraem do filme alguma dignidade que o roteiro não encontra.
De resto, todo o filme segue a cartilha desse grande sonho americano do self-made man: o roteiro parece um grande TedX de autoajuda em vez de um filme sobre superação — estão ali discursos meritocráticos sugados diretamente de algum best seller sobre gratidão e empreendedorismo (e sim, eu sei que isso foi muito específico). Não tira o brilho das atrizes, mas torna a narrativa indigesta: o mito supera as mulheres e sua própria história. No fim, parece que a travessia foi nossa, mas por um mar de cansativas e desgastante más decisões do casal diretor. - DirectorMisan HarrimanStarsDavid OyelowoJessica PlummerAmelie DokuboIn this intense short film, a grieving rideshare driver picks up a passenger who helps him confront the past.26/jan
[Netfllix]
6/10
Curtas-metragens são, por sua natureza, histórias concisas e autocentradas. Em sua narrativa, Misan Harriman parte de premissa dolorosa e violenta da qual ele não nos poupa: a partir de trágico acidente, um homem não consegue levar a vida adiante.
A partir de pedaços do que se torna sua vida (como motorista de Uber, fragmentos — de conversas; de outras vidas — são o que sobram para completar o vazio que lhe cabe), Harriman constrói o amálgama de Dayo (David Oyelowo, bem no papel). A frieza dos diálogos e as rememórias do passado dão o tom de insustentabilidade da existência, provocando o espectador a encarar a depressão do protagonista sob olhares externos, a partir do esvaziamento das relações.
A história segue até encerrar tudo num pequeno embrulho moral. Eis seu oxímoro emocional: por querer levar às lágrimas, vacila e as esgota. Tão secamente quanto estabelece o drama, impõe um esvaziamento quase religioso de uma trama que se negara a torcer pelo misticismo. E daí se esgota. - DirectorPeter BayntonCharlie MackesyStarsJude Coward NicollTom HollanderIdris ElbaFollows a boy, a mole, a fox and a horse, as they create an unexpected friendship and travel together in the boy's search for home.26/jan
[AppleTV+]
5/10
“Isn’t it odd, we can only see our outsides, but nearly everything happens on the inside?”
A fala do Menino é um dos muitos epítetos que constróem a narrativa de Peter Baynton e Charlie Mackesy. É também, simultaneamente, sua fortaleza e sua fraqueza: ao mesmo tempo em que os diretores escolhem uma lindíssima animação para trazer uma doce história sobre o amor, também é a partir dela que se percebe que o exterior foi o alvo de preocupação estética que moveu a história.
Não que eles não tivessem o que dizer: mas tiveram até demais. Tudo junto, fragmentado, recortado, torna o roteiro um amontoado de frases feitas sem um fio narrativo que os conduza. Foi intencional, claro: a ideia é tocar o público infantil com pequenas mensagens que, juntas, levam à gentileza que o Menino busca cultivar. Mas será que funciona?
No conjunto, infelizmente, os impactos vão se esvaindo à medida que a busca dos personagens não se materializam em objetivos concretos. Talvez seja reconfortante ouvir que somos importantes, é bem verdade, e talvez esse tenha sido o objetivo primordial dos realizadores. Mas também talvez seja pouco. No subtexto, a ideia de que poderia ser algo se fosse um conjunto: como momentos deslocados, é só um livro de autoajuda mal costurado. Uma pena terrível, porque, no fim, seu potencial era expoente. - DirectorKris BowersBen ProudfootStarsDana AtkinsonDuane MichaelsPaty MorenoTells the story of four unassuming heroes who ensure no student is deprived of the joy of music. It is also a reminder of how music can be the best medicine, stress reliever and even an escape from poverty.27/jan
[Disney+]
6/10
Quatro histórias. Quatro diferentes e emocionantes vivências compõem o mosaico dos trabalhadores da última loja de consertos de instrumentos musicais para alunos de escolas públicas em Los Angeles. Tentando resgatar certo sentimento de esperança sobre o ensino nos EUA, os diretores Ben Proudfoot (um descendente dos Proudfeet em Hobbiton?) e Kris Bowers investem no passado de Dana, Duane, Steve e Paty — imigrantes e nativos que se dedicam ao nobilíssimo trabalho de recuperar instrumentos velhos. Entre eles, há algumas crianças instrumentistas que participam, costurando a história.
A ideia e a execução formal são lindas. A prática da narrativa, entretanto, erra o alvo algumas vezes. Afinal, não se pode intitular um filme como “a última loja” sem se questionar o que levou a isso. Abrir mão de certa análise crítica do abandono da educação no país, da disrupção das práticas de ensino, do liberalismo (que ainda é exaltado em certa historia que comenta “o sonho americano”) é dar um tiro no pé, é reverberar a esperança esvaziada da sorte ou do acaso.
Não era o objetivo dos realizadores, a gente sabe: mas essa exaltação das vitórias individuais (lindas, sem dúvida, e tocantes) sem a análise de seus contextos garante apenas a leitura míope da esperança que eles buscaram alcançar. - DirectorWes AndersonStarsRalph FiennesBenedict CumberbatchDev PatelChronicles a variety of stories, but the main one follows Henry Sugar, who is able to see through objects and predict the future with the help of a book he stole.28/jan
[Netflix]
5/10
Bem, é um curta do Wes Anderson. Tem quem curta.
Aqui, o diretor emula a linguagem literária em uma metalinguagem gradativa, em que uma história conta uma história que conta uma história. A verborragia interminável gera um efeito proposital de cansaço e aborrecimento. Em sua busca pelo blasé, reina a insipidez monocórdica das performances e dos tons (visuais e sonoros).
É igual a tudo o que ele já fez. O mesmo filme, a mesma lógica; o mesmo uso do burlesco com o fabulesco; o mesmo humor.
Bonitinho que só. E só. - DirectorCeline SongStarsGreta LeeTeo YooJohn MagaroNora and Hae Sung, two deeply connected childhood friends, are wrested apart after Nora's family emigrates from South Korea. Twenty years later, they are reunited for one fateful week as they confront notions of love and destiny.28/jan
[Espaço Itaú]
7/10
Vai ser difícil falar sobre o filme de estreia de Celine Song por dois motivos contraditórios: o filme é maravilhoso; eu não gostei do filme.
Eu sei que a diretora investiu pesado na construção psicanalítica de suas personagens, especialmente de Nora (uma radiante Greta Lee); eu sei que sua evolução é fruto de estudos do self, especialmente do verdadeiro / falso self de Winnicott (o diálogo entre as mães antes que Na imigre para os EUA não é à toa); eu sei que há doses cavalares de percepções narcísicas sobre o amor e o afeto, calçados na persona de Jung, na construção de camadas de máscaras que criam outras vidas em uma.
Mas isso — a percepção subjetiva sobre as relações; a projeção irrealizável dos relacionamentos — cria uma narrativa propositadamente verborrágica, de debates banais a importantíssimos, com enorme delicadeza… e que já vi antes. Algumas vezes.
Entendo quem vê o frescor da diretora; estou certo de que muitas maravilhas virão dela. Ao mesmo tempo, a reverência visual excessiva a Wong Kar-Wai, somada a essa percepção principalmente lacaniana (em que Nora se debate para escolher um objeto suficientemente bom para lhe dizer o quanto ela é suficientemente maravilhosa) dos relacionamentos… isso tudo realmente me esgotou.
Então é difícil dar uma nota ao filme; principalmente porque a incomunicação entre mim e Song (tal como a dos três personagens no terceiro ato) não me permite ser justo sem ser emotivamente tragado pela minha sombra narcísica e cínica de agora. - DirectorAlexander PayneStarsPaul GiamattiDa'Vine Joy RandolphDominic SessaA cranky history teacher at a prep school is forced to remain on campus over the holidays with a grieving cook and a troubled student who has no place to go.28/jan
[Estação Net Rio]
8/10
Um filme agridoce, a nova empreitada de Alexander Payne está mais para Nebraska que para Os Descendentes. Que bom.
Investindo na velha fórmula de pessoas de gênios (e gerações) diferentes enclausuradas e em conflito, o roteiro do estreante David Hemingson cresce de forma a aumentar a tensão sem perder seus contornos afetuosos. De fato, o desenvolvimento é tão fluido e natural (num trabalho estupendo do talentosíssimo Paul Giamatti) que a transição das personalidades e dos sentimentos nunca é questionada, afinal.
Tanto o público se reconhece na dialética entre conservadorismo e progressismo quanto na fundação humana dos carinhos. Respira empatia no seu retrato emocional sobre classe, sobre disputas de espaço, sobre dignidade. Lindo. - DirectorAki KaurismäkiStarsAlma PöystiJussi VatanenJanne HyytiäinenIn modern-day Helsinki, two lonely souls in search of love meet by chance in a karaoke bar. However, their path to happiness is beset by obstacles - from lost phone numbers to mistaken addresses, alcoholism, and a charming stray dog.04/fev
[Mubi]
7/10
Ah, o amor. A partir de um roteiro enxuto e de poucos acontecimentos, Kaurismäki elabora uma narrativa de desencontros, com um humor (finlandês?) peculiar. Anacrônico (o rádio como principal meio de comunicação em plena guerra da Ucrânia?), o diretor carrega na indiferença e na apatia para comentar o desgaste das relações e a insensibilidade aos prazeres (talvez pelo excesso de estímulos? — curioso notar que, toda vez que carrega nas cores, o filme demora superficialidade e desconforto). É no aborrecimento e no humor dos desencontros que ele constrói sua história. - DirectorJoel CrawfordJanuel MercadoStarsAntonio BanderasSalma HayekHarvey GuillénWhen Puss in Boots discovers that his passion for adventure has taken its toll and he has burned through eight of his nine lives, he launches an epic journey to restore them by finding the mythical Last Wish.11/fev
[Globoplay]
8/10 - DirectorYorgos LanthimosStarsEmma StoneMark RuffaloWillem DafoeAn account of the fantastical evolution of Bella Baxter, a young woman brought back to life by the brilliant and unorthodox scientist Dr. Godwin Baxter.15/fev
[Estação Net Botafogo]
9/10 - DirectorDenis VilleneuveStarsTimothée ChalametZendayaRebecca FergusonPaul Atreides unites with Chani and the Fremen while seeking revenge against the conspirators who destroyed his family.29/fev
[UCI Downtown Imax]
9/10
Mais um dedicado filme de Villeneuve. - DirectorCord JeffersonStarsJeffrey WrightTracee Ellis RossJohn OrtizA novelist who's fed up with the establishment profiting from Black entertainment uses a pen name to write a book that propels him into the heart of the hypocrisy and madness he claims to disdain.03/mar
[Prime Video]
8/10
“Não é só pelo fato de [o livro] ser tão comovente… Acho que é essencial ouvirmos vozes negras neste momento.”
, disse a autora branca após se opor a dois escritores negros que rejeitavam um livro.
E é assim, repleto de metalinguagens, que Ficção Americana dialoga consigo mesmo o tempo todo, piscando para o público que ri constrangido — pelo menos, o público a que ele se dirige.
Duas histórias de entrelaçam no filme de estreia de Cord Jefferson: uma é a narrativa de um escritor em crise com seu trabalho; outra, a de um homem atordoado em suas relações familiares. Uma é a que ele precisa contar; outra, a que interessa o diretor.
Entremeando as narrativas com comentários sarcásticos e perversos, a sátira (será mesmo?) se constrói na ridicularização dos estigmas sociais que, consciente ou inconscientemente, regramos à cultura preta: a verdade é que reforçamos comportamentos sectários quando divulgamos e elogiamos apenas aquelas obras que dialogam com nossas impressões sobre a pretitude. Na ânsia de lidarmos com nossas culpas, reiteramos nossa violência.
(E é impossível não pensar no livro “O Sol na Cabeça”, de Geovani Martins, ou no filme “Cidade de Deus”, do Meireles, como contraponto ao “Fuck”, de Leigh).
O roteiro claro, eloquente e sem julgamento das más ações de seus personagens tem na atuação de Jeffrey Wright um importante protagonista para seu brilho. O ator equilibra seu Thelonious Monk entre a ternura, a raiva e a impotência de tantas formas possíveis que até faz soar fácil. Seu talento potente encontra força e bastante humor nas contracenações doces com Leslie Uggams, Sterling K. Brown (chorei, não disse por onde) e Mura Lucretia Taylor — em situações de cuja caricaturização o autor deseja fugir, mas de onde o indivíduo não pode escapar.
(E é esse tipo de piscada que, francamente, Cord, você vai na mosca.) - DirectorJonathan GlazerStarsChristian FriedelSandra HüllerJohann KarthausAuschwitz commandant Rudolf Höss and his wife Hedwig strive to build a dream life for their family in a house and garden beside the camp.03/mar
[Estação Net Rio]
9/10
Zona de interesse é um filme sobre aparentemente nada: um dia a dia floreado de uma família feliz em suas possibilidades médias. As mulheres discutem suas joias e seus jardins; as crianças brincam de soldado e pulam em piscinas. Assim a família Höss constrói sua lógica razoavelmente sem percalços.
O único inconveniente reside ao lado; trata-se, afinal, da casa de um alto oficial nazista bem atrás de um campo de extermínio. Auschwitz.
Numa direção de som fabulosa — com sirenes, gritos e levantes que se opõem ao conjunto imagético de certa tranquilidade com que a família encara o horror e a perversidade que atravessam seus muros (em que heras servem de tapumes às vistas, mas não aos ouvidos) — Jonathan Glazer propõe um olhar sobre a intimidade distante da família. Sempre em planos abertos, o diretor contrapõe a perversidade do mal banal aos horrores que sabemos e imaginamos. Mesmo que não esteja visualmente presente, ali está o ápice da tirania humana: na reunião burocrática em que homens discutem a maneira mais eficiente de se exterminar 400 (“quase 500”) judeus de uma só vez. Revira o estômago e incapacita a alma. Crudelíssimo. - DirectorHayao MiyazakiStarsSoma SantokiMasaki SudaKô ShibasakiIn the wake of his mother's death and his father's remarriage, a headstrong boy named Mahito ventures into a dreamlike world shared by both the living and the dead.16/mar
[Espaço Itaú]
10/10
Hermetismo não significa complexidade. Há obras que são herméticas em sua estrutura, mas rasas como pires. Os filmes do Miyazaki, entretanto, tendem a combinar a linguagem de grande complexidade — fortemente emocional, densa — à construção de símbolos emocionais significativos, em narrativas que se desdobram entre camadas e camadas de sentidos.
Em O Menino e a Garça, o diretor japonês coordena tudo isso. Não é um filme fácil nem infantil — sua primeira hora se arrasta em descrever a banalidade (da guerra, das relações) para, em seguida, mergulhar numa história tão subjetiva quanto complexa para esses tempos de pressa. O filme exige de nós dedicação e delicadeza: em troca, permite que mergulhemos em sua direção de arte estonteante e em sua trilha evocativa para uma viagem que é, mais que tudo, interna: de dentro para dentro. No tempo convoluto, a percepção de que passado e presente são uma só história: é que a infância sublima todas em caráter.
Divino. - DirectorEli RothStarsPatrick DempseyTy OlssonGina GershonAfter a Black Friday riot ends in tragedy, a mysterious Thanksgiving-inspired killer terrorizes Plymouth, Massachusetts - the birthplace of the infamous holiday.29/mar
[Max]
5/10
Ao fim da sessão, pesquisei alguns nomes no IMDb e só então percebi por que a ideia do filme me parecia tão familiar: Thanksgiving começou como um dos trailers-de-brincadeira de Eli Roth em Grindhouse, fita dupla que Tarantino dividiu com Rodriguez em 2007. Dezessete anos depois, o diretor se dedica à homenagem aos slashers e aos filmes B, com seu humor peculiar: entre a sátira e o gore, Roth dá o tom do terror-do-peregrino com doses cavalares de suas marcas indeléveis como cineasta — pro bem e pro mal.
Não seria um problema se, por vezes, não soasse tão… preguiçoso.
O maior problema do filme não está nas atuações propositadamente canhestras; não está na retomada das cenas do trailer de Grindhouse (ao qual reassisti); não está no roteiro previsível (vamolá, bicho, eu sabia o assassino desde a terceira cena). O problema está na paupérrima direção de arte; na fotografia indolente que só; nas sequências de ação confusas; no clímax aborrecido e igualzinho a todos os outros que já vimos. Mesmo o humor parece tentar se sustentar no arremedo argumentativo de ‘bem, é uma sátira, não é mesmo?’, mas fracassa constantemente por não conseguir tornar crível ou direcionado aquilo com que tenta brincar. Aí o filme se sabota e esgota antes do fim.
Mesmo que, no fim, não seja necessariamente ruim. É só… esvaziado de si mesmo. - DirectorLúcia MuratStarsIrene RavacheCriméia AlmeidaEstrela BohadanaHalf-documental independent film about torture against women in Brazilian military dictatorship. Ravache is both a nameless narrator and main character.29/mar
[Mubi]
9/10
“Quem sobreviveu não é humano. Igual ao torturador, que também não é. Todos vocês acham que a gente é diferente, só pra fingir que nunca vão estar no lugar da gente.”
Num registro semidocumental de histórias, Lúcia Murat traz seu olhar sensibilíssimo à tortura de mulheres durante a ditadura militar. Abrindo sua câmera para depoimentos frequentemente escondidos pela grande mídia liberal (preocupada — VEJA SÓ QUE COINCIDÊNCIA — em anistiar torturadores e milícia na reabertura política), a diretora transforma seu cinema em manifesto sincero, abrindo espaço para narrativas que precisavam ser reescritas — sem que se tratassem mais os torturadores como médicos ou os estudantes como terroristas.
Em depoimentos que amalgamam dor, tristeza e muita violência, Murat costura, com potente habilidade e perspicácia, as memórias da tortura aos fatos de seu presente — como a violência a mulheres da Baixada —, sem se esquecer de trazer humanidade às suas personagens: o tempo todo a diretora nos lembra de que não são heroínas (apesar da bravura e da coragem) e de que, apesar dos traumas, ainda se compõem de desejos, de vontade de vida, de ódio, de amor, de afeto.
Nesse sentido, Irene Ravache é poderosa sinédoque: suas histórias trazem perplexas reflexões em diálogos em que só se ouve a mulher: porque só sua voz importa. A atriz reinterpreta discursos poderosos de desestigmatização e de pulsão de vida das mulheres que viram a morte de perto. Marcadas e feridas, a elas (Ravache nos encara) resta a pena e o desprezo. A resistência e a sobrevivência as tornaram mártires, santas. Intocadas. Sem história, identidade ou passado.
Murat traz a essas memórias vitalidade. E reforça nosso vigoroso ódio e nojo à ditadura.
“Mas hoje eu não quero pensar nisso, não. Eu vou sair, acho que até vou tomar um porre, vou arrumar um gato — mesmo que amanhã de manhã eu tenha que avisar: “olha, cara, vai com cuidado. Vai com cuidado que já me machucaram pra caralho.” É, acho que é isso. Eu devia pôr uma placa: Cuidado! Cachorro ferido!” - DirectorGuy HamiltonStarsRoger MooreYaphet KottoJane SeymourJames Bond is sent to stop a diabolically brilliant heroin magnate armed with a complex organisation and a reliable psychic tarot card reader.30/mar*
[REVISÃO DA SÉRIE 08/25]
[Prime Video]
5/10
[Pro bem dos filmes, eu vou ignorar o racismo (religioso, cultural, social) e a hipersexualização de pretos que o filme propala: não é desculpa, mas é bem verdade que não se pode ver a produção com nossos olhos; trata-se de um produto de seu tempo.]
—e é assim que 007 goes camp.
Bond se torna oficialmente o filme de toda família. Com Moore, abandona-se qualquer traço de lógica racional de roteiro: investindo em crocodilos (Pitfall, jogo de 1982, vai beber muito dessa fonte), em perseguições absurdas e em personagens cada vez menos verossímeis, o diretor Guy Hamilton esboça uma nova época para o agente.
Parabéns pelo trabalho, Guy. Ficou uma merda. Nem minha memória afetiva salvou Bond desse horror. - DirectorPedro Soffer SerranoStarsPaulo MiklosGero CamiloIzak Dahora31/mar
[Estação Botafogo]
9/10
Há alguns adjetivos que acho preguiçosos para caracterizarem filmes. “Delicioso” é um deles — diz muito pouco sobre o que se viu e está mais associado ao paladar que às sensações que a história pode provocar.
Dito isso, não resisto: que filme DELICIOSO é Saudosa Maloca.
Ao Pedro Serrano não importa a biografia; seu cinema se constrói a partir das memórias (que, como tais, pregam peças na gente todo o tempo) e sobre as músicas de Adoniran. Em vez de construir referências conhecidas aqui e acolá, ele bebe de toda a fonte do compositor para reinventar seu passado. Funciona. Na alinearidade, a montagem encontra caminhos que evitam o episódico para contar sobre aquelas pessoas naquela cidade (porque São Paulo e o cortiço são vivos e personificados em gananciosos empresários e nos românticos moradores que ali enraizam suas origens, sua língua única, sua modernidade pungente, misturada.
E o diretor não tem nenhuma vergonha em abusar da comédia, que transiciona do humor físico às sutilezas dramáticas com autoralidade. Pra isso, conta com um Paulo Miklos, um Gero Camilo e um Gustavo Machado inspiradíssimos na defesa de seus Adoniran, Mato Grosso e Joca (importa se existiram? importa nada.): são dedicados, engraçados, nunca acima do tom — e ainda soam verossímeis quando o texto escorrega. Brilham profusivamente.
Dizem que “saudade” é palavra exclusiva da língua portuguesa. É mentira. Mas, como no filme de Serrano, a história é mais bonita contada assim. Se cinema não é isso, não sei o que é. - DirectorGeorge LucasStarsHayden ChristensenNatalie PortmanEwan McGregorThree years into the Clone Wars, Obi-Wan Kenobi pursues a new threat, while Anakin Skywalker is lured by Chancellor Palpatine into a sinister plot to rule the galaxy.06/abr*
[Disney+]
[REVISÃO PARA A SEASON FINALE DE CLONE WARS]
REVISÃO DE NOTA: 7 > 6/10
O filme fica estranhamente muito melhor em alguns aspectos pós-CW; mas piora significativamente em outros — principalmente no que tange às decisões de Anakin.
A trilogia de prequel é uma tragédia. Dramática e narrativamente. Potencial desgraçado pelas mãos do homem que criou tudo, mas que não sabia o que fazer com os brinquedos que inventou. Saiu com a bola embaixo do braço e foi pra casa aborrecido. E aborrecendo quem queria mais.
Era pra ser 5, mas ganhou meia estrelinha só porque Anakin me deu raiva pela primeira vez. - DirectorStephen ChboskyStarsBen PlattJulianne MooreKaitlyn DeverFilm adaptation of the Tony and Grammy Award-winning musical about Evan Hansen, a high-school senior with social anxiety disorder, and his journey of self-discovery and acceptance after a classmate's suicide.14/abr
[Netflix]
4/10
O filme trai criminosamente a peça. Seja nos diálogos canhestros, seja na reconstrução do final (bem, ao menos encontramos alguma redenção pra Evan — mas ele merece?), aqui estão um Ben Platt velho e cheio de maneirismos e uma Kaitlyn Dever oscilante e insegura, que desafiam qualquer suspensão de descrença e tentam garantir alguma dignidade ao roteiro que vai se esfacelando (quando amigos desaparecem e não se dignam nem ao diálogo sobre os erros, ou quando relações interesseiras tomam conta de uma situação que só se permite caótica porque se constrói sobre evidentes necessidades de roteiro).
Amy Adams e Julianne Moore garantem alguma sobrevida ao longa: suas atuações são verdadeiramente delicadas e potentes. Noves fora, todo o resto esquece que a linguagem da Broadway não se traduz com facilidade no cinema. Com uma direção de arte capenga e uma fotografia de chorar de tão ruim, o filme se esquece de ser filme.
Triste. Mas não pelos motivos certos. - DirectorChase ConleyStarsRoss MarquandMorla GorrondonaAlison Sealy-SmithStorm is forced to face her worst fears in order to free herself.